CEAE Manchester Nice

O CAMINHO SEGURO E A TRAVESSIA

Um domingo de carnaval

            Segundo a escritora Heloísa Prieto (*), os antigos munduruku diziam que “o caminho seguro é aquele que foi pisado muitas vezes.” Assim são os caminhos do Evangelho. Neles transita por séculos e séculos a humanidade sofrida em busca do aperfeiçoamento moral. Porém, para que haja caminho é preciso caminhar. O relato que segue é uma pequena crônica de como funciona esta linda metáfora na vida das pessoas e na nossa organização religiosa desde o seu início.

            – No dia 9 de fevereiro, domingo, a turma vai fazer a primeira caravana – comunicou o Flávio, dirigente, para a sala apinhada de alunos.

            – Mas dia 9 será domingo de carnaval, acho que… – lembrou um aluno.

            – Um motivo a mais para fazer a caravana – encerrou o dirigente.

             As ruas estavam vazias naquela manhã do dia 09 de fevereiro de 1975, quando um numeroso grupo de alunos da 3ª Turma da Escola de Aprendizes do Evangelho do CEAE Genebra iniciou um “trabalho de campo” às margens do Rio Aricanduva. Era a primeira visita das Caravanas de Evangelização e Auxílio, que já integravam o programa das Escolas.

            Por que, numa manhã chuvosa de domingo, tantos homens e mulheres deixaram o conforto dos seus lares e seguiram por becos e vias atingidos pela lama e pobreza, onde crianças circulavam entre brincadeiras e desamparo?

Talvez porque ainda ecoavam nos seus ouvidos as palavras de Emmanuel contidas no livro Paulo e Estêvão: “Os filósofos do mundo sempre pontificaram de cátedras confortáveis, mas nunca desceram ao plano da ação pessoal ao lado dos mais infortunados da sorte. Jesus renovara, com exemplos divinos, todo o sistema da pregação da virtude. Chamando a si os aflitos e os enfermos, inaugurara no mundo a fórmula da verdadeira benemerência social.”

            No fim da manhã, os participantes eram só alegria pela missão cumprida e relatavam as experiências vividas. O bate papo amigo, as leituras do evangelho, as orações proferidas. Trocaram olhares e viram que os sapatos estavam cheios de lama e alguém lembrou:

            – Descemos da cátedra e pisamos na lama! – sim, a escola não seria uma cátedra da nossa zona de conforto? Sala limpa, arejada, dirigentes, expositores, amabilidades, cafezinho ao final. Toda semana uma aula. Agora orientavam a turma  para tomar contato com outras realidades a fim de atender o Mestre no “Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a gente.” Mc 16;15.

As Caravanas constituíam num exercício em que os aprendizes do evangelho partiam em busca de outras realidades, em contato com as alegrias, as esperanças e os sofrimentos humanos, exemplificando e pregando o Evangelho de Jesus, orando e propondo apoio fraternal e material aos necessitados.

 

Abre não abre

            A Aliança Espírita Evangélica, fundada em 1973, oferecia aos centros espíritas um programa completo de atividades com o foco na assistência espiritual e na evangelização. Acreditava-se que a sua expansão dar-se-ia pela adesão dos centros espíritas. Entretanto, observou-se que, esse processo seria lento e cheio de dificuldades, pois muitos centros espíritas desejavam implantar apenas parte do programa, caminho certo para o malogro, com dissensões entre os adeptos.

Diante das dificuldades, por que não transformar as caravanas no embrião de um novo centro espírita? Um grupo oriundo de uma mesma turma, disciplinado, onde uns não sobrepujariam os outros, trabalhando em equipe, poderia abrir um novo centro espírita com base no programa da Aliança? Era uma tese que precisava ser experimentada. A caravana resultaria no novo centro e a expansão da Aliança teria mais uma estratégia.

            O Flávio veio dar a notícia:

– A direção da Aliança escolheu esta turma para abrir um centro espírita na Vila Nova Manchester, em decorrência das caravanas.

            O grupo ficou em silêncio pensando: “caravana tudo bem, uma vez por mês, mas centro espírita? Responsabilidades, trabalhos diários, contas a pagar…”.

            Entretanto, ninguém ousava discordar em público. Do que dissessem revelariam a falta de entusiasmo.

            O dirigente ficou mais de um mês tentando motivar a turma para a abertura do centro espírita, mas o grupo permanecia em silêncio. Até que um aluno trouxe um questionário e pediu que cada um preenchesse para saber como estava o grupo: Deseja participar do novo centro? Que dia poderia trabalhar? Nome do centro? Com quanto poderia contribuir para as despesas? Sim, viu-se que era possível abrir o centro espírita. Havia adesão para os trabalhos iniciais e doações suficientes para alugar uma casa.

            Todos regozijaram com o resultado. Até apareceu um bolo para o café da tarde em comemoração. Mas, como em quase tudo, havia um “mas”.

            Quem iria tomar para si as fichas preenchidas, coloca-las debaixo do braço e ir a campo para as providências de fundar um centro espírita? Outro período de silêncio. Todos queiram colaborar, mas dirigir era para o outro. Até que entregaram as fichas para um grupo mais jovem da turma para liderar o processo. Desde sua gênese, no CEAE Manchester houve o protagonismo dos jovens.

 

Atitudes e valores

            Após mais de um ano de realização das Caravanas foi inaugurado o Centro Espírita Aprendizes do Evangelho, CEAE Manchester, em 30 de setembro de 1976. Para dar início às atividades foi alugada uma casa bem pequena na Rua Zambezé, 478, onde o centro funcionou durante quatro anos em abençoados e humildes labores.

            Na noite da inauguração, com o trabalho de vibrações numa quintas-feiras, o plano espiritual se manifestou e disse:

            – Se o grupo prosseguir com o espírito de humildade que observamos hoje, esse trabalho vai crescer. (**)

            Sob a inspiração dos benfeitores espirituais foram adotados alguns valores para orientar as atividades e a convivência entre os voluntários da nova instituição: humildade, ausência de personalismo, trabalho em equipe e atitudes de amor.

            Voltando ao início deste texto. O dirigente, avaliando que o domingo de carnaval seria uma boa data para o início dos trabalhos, talvez sem querer, passou a mensagem de que um centro espírita bem orientado deveria funcionar de segunda a domingo, inclusive nos feriados. Demandas humanas por espiritualidade e acolhimento não marcam nem dia, nem hora.

 

Cleomar B. Oliveira

Aluno da 3ª Turma da Escola de Aprendizes do Evangelho – CEAE Genebra e trabalhador do CEAE Manchester, CE Irmã Nice e NAF

 

(*) Livro: Um Estranho Sonho de Futuro, Daniel Munduruku, organizado por Heloísa Prieto.

(**) Até 2021 os alunos e trabalhadores do CEAE Manchester haviam fundado 11 centros espíritas, 7 creches com 1600 crianças, o Mãos Estendidas, o Projeto Crescer, o Grupo de Gestantes, o Bazar Social, a Ação Contra a Fome, o CVV Carrão e o Ninho de Paz. Todas as atividades na Zona Leste de São Paulo.

 

 

ATIVIDADES

  • Assistência Espiritual

Segunda-feira e Terça-feira às 19h15

Quarta-feira Remota às 19h30

Quinta-feira P1A às 19h15

Sexta-feira e Sábado às 14h15

Domingo às 15h15

  • Evangelização Infantil

Sábado às 09h00

Domingo às 09h30

  • Pré-Mocidade

Sábado às 09h00

  • Mocidade

Sábado às 14h15

Domingo às 09h30

  • Psicografia

Quinta-feira às 19h15

  • Cursos: Curso Básico de Espiritismo, Escola de Aprendizes do Evangelho, Passes, Médiuns, Dirigentes, Facilitadores, Entrevistadores.

 

Para maiores informações entre em contato com a Secretaria:
(11) 99809-1696.